alumbramentos

11.28.2006

trecho de filosofia, de pablo neruda

Nada se consegue voando
para se escapar deste globo
que te aprisionou ao nascer.
E há que confessar esperando
que o amor e o entendimento
vêm de baixo, se levantam
e crescem dentro de nós
como cebolas, azinheiras,
como tartarugas ou flores,
como países, como raças,
como caminhos e destinos.

11.24.2006

LEMBRA??

AT YOUR SIDE

When the daylight's gone, and you're on your own
And you need a friend, just to be around
I will comfort you, I will take your hand
And I'll pull you through, I will understand
And you`ll know that...


I'll be at your side
There's no need to worry
Together, we'll survive
Through the haste & hurry
I'll be at your side, if you feel like you're alone
And you've nowhere to turn
I'll be at your side


If life's standing still, and your soul's confused
And you cannot find what road to choose
If you make mistakes (make mistakes)
You can't let me down (let me down)
I will still believe (still believe)
I will turn around
And you know that...


I'll be at your side
There's no need to worry
Together we'll survive
Through the haste and hurry
I'll be at your side
If you feel like you're alone
And you've nowhere to turn
I'll be at your side

11.22.2006

notas mínimas # 4

perdi-me em seu quarto


lá deixei passos

alguns olhares reverberantes

e um pássaro que avisava

que eu deveria estar dormindo

quando alguns já acordavam


deixei guardado

alguma tranqüilidade

e algum desespero

(claro que tudo escondido

numa apatia escura)


os meses passaram

e me encontrei

em outras janelas


mas nunca mais

dormi com seu pássaro

11.20.2006

Canto,

Já não passo um dia sem sentir tua respiração próxima ao meu ouvido. Sussurro mentiras que também preenchem o meu coração.
É denso, quente e úmido o ar nestes campos.
Seus dedos frágeis redesenhando os meus contornos. Eu sou aquilo que você imagina.
E foi como garça que fiz esses ferimentos que demoram a cicatrizar no teu peito e barriga. As aves não têm lábios - bicos! - e com isso você não contava. Antes fossem só as minhas plumas leves arrepiando a tua pele.
Eu nunca havia voado antes, por um instante quase me esqueci de você.
Adormeci pousada num salgueiro, aninhada numa curva de galho e recoberta por uma cortina verde e fria.
Despertei com sua língua me apagando, te reconhecendo como se reconhece um criador, mas estranhando minha própria forma.
Meus braços doem muito e ninguém mais acredita nesta minha história.

Ana
novembro de 2006

11.09.2006

Autobiográfico, de Hugo Gutiérrez Vega

Para que saibam como é fácil
manipular-me, obrigar-me a dizer
e a fazer coisas,
que no fundo
não quero
nem dizer
nem fazer,
direi a vocês:
meu signo é aquário,
professei
pelo menos
quatro ideologias e duas religiões,
tive nove trabalhos diferentes
e não costumo
demorar-me
em parte alguma.
Direi também
que nas manhãs de domingo
não sei quem eu sou,
não me lembro do meu nome,
e ao ver-me no espelho do banheiro
com a barba emaranhada
e meus olhos balançando
na sacada das órbitas,
saúdo-me
com uma cortesia esmeradíssima
e me desejo um futuro brilhante;
paro de ter pena de mim
e me estendo uma mão
que chegaria até a outra mão
não fosse o maldito cristal,
e não fosse
porque dia seguinte será segunda-feira
e porque a vida
estará cheia de segundas-feiras
que seguem e seguem
até que num domingo
ao estender a mão
uma outra mão sairá do espelho
e já nunca haverá segundas-feiras.

11.01.2006

alumbramentos

psicórdica

vamos dormir juntos, meu bem,
sem sérias patologias.
meu amor este ar tristonho
que eu faço pra te afligir,
um par de fronhas antigas
onde eu bordei nossos nomes
com ponto cheio de suspiros.
Adélia Prado