alumbramentos

11.20.2006

Canto,

Já não passo um dia sem sentir tua respiração próxima ao meu ouvido. Sussurro mentiras que também preenchem o meu coração.
É denso, quente e úmido o ar nestes campos.
Seus dedos frágeis redesenhando os meus contornos. Eu sou aquilo que você imagina.
E foi como garça que fiz esses ferimentos que demoram a cicatrizar no teu peito e barriga. As aves não têm lábios - bicos! - e com isso você não contava. Antes fossem só as minhas plumas leves arrepiando a tua pele.
Eu nunca havia voado antes, por um instante quase me esqueci de você.
Adormeci pousada num salgueiro, aninhada numa curva de galho e recoberta por uma cortina verde e fria.
Despertei com sua língua me apagando, te reconhecendo como se reconhece um criador, mas estranhando minha própria forma.
Meus braços doem muito e ninguém mais acredita nesta minha história.

Ana
novembro de 2006