alumbramentos

10.30.2006

e se...

e se um dia eu parasse de falar?

deixando de falar,
será que a gente deixa também um pouco de existir?

não mais defender opiniões, posições e valores,
será que assim gente deixa de pensar?

deixando de elaborar estruturas de raciocínio, planos de vida, organizando tudo em passado-presente-futuro,
será que em tempo a gente esquece também as palavras?

esquecendo nossa lígua mãe, não possuindo mais a linguagem verbal,
será que assim a gente vai deixando a memória?

sem poder organizar/verbalizar/valorar ocorridos, desejos e frustrações,
será que fica só com um emaranhado de sensações e tudo por conta da linguagem sensorial?

eu?

eu não quero falar nunca mais.

10.27.2006

tudo pode ser alegre tudo pode ser triste

Hoje, depois de muitos livros, palavras que ainda voavam pelos olhos, extasiado pela quantidade, letargia pelo excesso - pausa para o café. Enquanto ouvia a máquina preparar meu expresso e os rumores de pequenas conversas, olhei ao redor. deparei com um grande jardim, dentro do prédio, envolto por muros de todos os lados. a imagem ecoou em mim. Lentamente fui me perdendo em pensamentos que eu não entendia, sensações, a duração sem fim do tempo quando é percebido somente como tempo. Percebi que algo faltava: não ventava naquele jardim.

10.15.2006

misantropia

já pensei em estudar os gatos, dedicar um bom tempo a seus gestos e movimentos, analisar a dinâmica de seus relacionamentos, tanto entre os próprios gatos quanto entre os gatos e seus donos.

cheguei a escrever um conto sobre a relação de um homem e de um gato, até então um bicho que ele odiava, e de repente se viu espelhado nele.

justa distância? parece-me tão injusto pensar nisso. como calcular a hora de estar próximo e a hora de dar espaço? como refrear os sentimentos, sejam eles de carência ou independência? é injusto para mim porque parece algo distante da realidade. da minha realidade.

talvez seja uma questão de instinto. para o gato é o mais natural a se fazer. mas nós homens insistimos em lutar contra o natural, como se para livrar de amarras de um destino que não queremos, afirmação do livre-arbítrio. eu, que nem sei mais o que é natural em mim...

10.09.2006

solidão interrompida de modo regrado

"Como achar a justa distância entre meu vizinho e eu de modo que uma vida social seja aceitável e possa ser possível para nós todos? Viver-junto, isto é, viver 'bem' em companhia de outrem, trata de uma distância e, mais enigmático ainda, de uma 'justa distância'. "



(Lisette Lagnado sobre "Como viver junto")

antes tarde que nunca...

BARTHES, Roland. Como viver junto. Aulas e seminários no Collège de France (1976-1977)
Trad. de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo. Martins Fontes, 2003.