alumbramentos

12.29.2005

Trip,

O cheiro de mar impregnou minhas roupas, assim como ao fundo de tudo que escuto persiste o som das ondas se formando e quebrando naquelas pedras.
E é areia o que limpo no canto dos meus olhos quando acordo e o que faz meus pés soarem chocalhos batendo contra o chão enquanto ando.
Como todas as grandezas inapreensíveis, a materialidade e a adjetivação óbvia é tudo o que posso nomear: imenso.
Minha visão não tem esse alcance.
Estou mareada com tudo o que meus sentidos absorveram e eu não pude compreender.
Meu estômago não é o mesmo há dias, engoli um filhote de peixe inteiro que após se debater por horas dentro de mim acabou por se acostumar com as novas condições ambientes, acho. Parecia querer saltar pela minha boca, mas a palavra nunca chegou a se formar - sílabas escorregadias e salgadas deixaram o céu da minha boca infértil.
E o mais estranho é saber, sem poder ver, que ele está crescendo.
Estou tentando escolher um nome pra torná-lo mais próximo meu. Penso em nomes bíblicos masculinos, acho que anseio por uma benção.
É assustador e fascinante ser tão pequena e tão grande. Tenho um instante pérola fechado na concha do meu peito.
Seria muito mais solitário se não fosse por Matheus, Pedro, João, Paulo...E em qualquer conversa, sem que eu possa evitar, meu olhar desvia em busca de um horizonte possível.

Ana
(dezembro dos 200...)

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