alumbramentos

9.16.2005

O quarto era precário, feito de passagem, cheirando os muitos tipos de confusões que tinham feito ali dentro.
Ela acordou moída porque ele tinha sonhado que estava dormindo sozinho.
Levantou quieta, escorregando para os pés. A pouquíssima luz entrava pela porta mal encostada do banheiro.
Tomar banho com a porta fechada e música
O vitrô do banheiro dava para um corredor comum, mas quanto a isso podia ficar tranquila, ninguém se mete no choro escondido dos outros.
O que gostaria de ouvir para tentar começar o dia? Todos os cds diziam a mesma coisa, estava cansada de se repetir.

Encarou o silêncio onde era difícil projetar alguma saída - o banheiro ecoava.
- Ana! (Ana, Ana, Ana)
- Oi? (Oi, Oi, Oi)
- Você vai tomar banho vai? (Vai!, Vai!, Vai!)
- Acho que sim, tudo bem? (Bem?, Bem?, Bem?)
- Não, tudo bem, é que preciso sair meio rápido! (Rápido!, Rápido! Rápido!)
- Eu abro... (Abro, Abro, Abro)
Destrancou a porta e abriu o chuveiro.
Ele entrou olhando muito.
De costas pra ele, com os olhos apertados, ela ouvia a música que principiava lá fora. Tinham muitos vizinhos.
A voz feminina dizia coisas que serviam pra ele, mas a música era ela quem gostava muito.
Não conseguiria comentar.
Será que ele estava ouvindo?