alumbramentos

7.26.2006

PORTA 3

[porta larga, mas baixa.
madeira maciça e clara com maçaneta roliça]

aberta, escancarada mesmo.
não tinha como não prestar atenção.

entrava gente, saia gente.

[uma festa?]

entrei.
a porta fechou. tudo ficou em silêncio.

[para onde teriam ido todas aquelas pessoas?]

fiquei só em um cômodo amplo e confortável. tinha uma cama de casal e duas almofadas peludas brancas e grandes. tocava música clássica.

[hum! que cheiro bom! parece cheiro de felicidade!]

começou a doer.
eu olhava em volta e olhava para mim mesma e tentava entender.
não tem nada provocando essa dor. eu não via nada.
nó na garganta. não conseguia falar.
eu estava rouca.

comecei a investigar o ambiente melhor e por trás de cada parede descobri mundos inteiros!!!

eu não podia alcançar tudo aquilo!
eu tão pequena.
como?

[não pode existir só o "aqui", precisa mesmo desse infinito todo?]

doía cada vez mais. minha cabeça começou a doer.

sirene. dois guardas fardados me carregaram pra fora.
eu esperneei, briguei, gritei, chorei como nunca.
eu aprendi a chorar.

- me deixa ficar, me deixa ficar!!!

[você já se esqueceu?]

porta afora fechada.
aberta.
todo mundo entra e sai. ainda muita festa.

eu de longe não quero mais entrar.

[olha! uma das almofadas foi arremessada porta afora!]

- posso ficar com essa de lembrança?

1 Comments:

  • At 2:02 AM, Anonymous Anônimo said…

    estará sempre aberta

     

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