alumbramentos

2.22.2005

RELATÓRIO DOIS


ANO 1
Era um grande evento.
Evento no sentido de que não era simplesmente uma inscrição em um curso superior em uma universidade pública - estava me inscrevendo em uma nova vida.
Era um projeto em potencial para dar certo.
Sensação de juventude, vontade de mudar as coisas, de ser melhor, de estudar e aprender muito.

Projeto de grandes amigos e viagens.

***

Teria sido amor a primeira vista? Conversamos sobre isso anos mais tarde e acabamos decidindo por uma "grande empatia" à primeira vista.
Amor era muito para aquele simples encontro e perto de tudo o que ainda estava por vir.


ANO 2
A sensação boa de juventude estava por toda a parte. Desde o caminho no ônibus cheio de estudantes - bixos e veteranos que iam se encontrando antes do tempo.
Mas não estava mais dentro de mim.
Eu tinha o coração nublado.
Costumava pensar minha vida como uma caixinha - nesta época.
Uma caixinha antes cheia de coisas bonitas, alegres, coloridas e muito delicadas.
Alguém havia remexido a caixinha para todos os lados e havia deixado absolutamente tudo fora do lugar.
Muita coisa havia sido quebrada. Muita coisa não tinha mais conserto.
Eu reclamava, não sabia quem tinha sido o culpado - quem tinha o direito de mexer assim na minha caixinha?? E reclamava mais com a vida - você não vai me dar tempo para colocar as coisas no lugar? Não vai me deixar substituir as quebradas por novas?

A maior parte das minhas férias tinha sido horrível. Havia um certo alívio em voltar para São Paulo - não queria continuar na casa da minha mãe.

***

Eu estava com medo. Tinha muito medo.
Sabia o que ainda sentia por você.
Sabia que ia sofrer mais se continuasse, mas não sentia os sentimentos ao meu alcance.
Era algo maior que eu e sobre o qual eu não tinha controle.
Eu sabia que no fundo eu não queria fugir - acontecesse o que acontecesse eu queria estar lá para viver o que seria.


2005
Tudo tão alheio à minha realidade.
Parecia uma outra vida. Nada daquilo tinha me acontecido - teria sido mesmo com outra pessoa?
Tanto as coisas boas como as ruins tão anestesiadas pelo tempo.
A sensação juvenil continua por lá - acho que vai estar sempre.
Quanto à mim - me senti velha.
Pode parecer ridículo aos 22 anos, mas me senti amadurecida.
Olhava as pessoas e pensava - crianças, eu sei como vocês se sentem, já passei por isso antes. Dessas frases que ouvimos a vida toda de nossos pais e torcemos o nariz - duvidando.

***

Você não faz mais parte do meu cotidiano.
Não quis mais e saiu deixando isso bem claro.
Triste.
Mas não me deprimo mais.
Valeu a pena.

Hoje, vivemos um relacionamento de repetições. De sentir às vezes um sentimento antigo - deslocado.

Não consegui tirar as fotos.